Eu estou sendo perseguida por um tema/assunto não muito agradável ultimamente: a morte. O destino último de todos os seres vivos que habitam esse planeta. O desejo (alcançado) dos poetas ultrarromânticos. A única certeza que temos na vida. Aliás, que coisa engraçada, né? A única certeza que temos na vida é a sua antítese. Enfim. Fui acometida por quatro reflexões sobre a morte e vou logo avisando que não tenho grandes e definitivas epifanias para relatar-lhes. São apenas quatro casos sobre a morte que acabaram cruzando o meu caminho nos últimos três dias.
A primeira: nesta 3ª feira, na aula de Produção de Texto II, estávamos discutindo técnicas de argumentação. A Cláudia, nossa professora (sem dúvida nenhuma a professora mais divertida e dinâmica que nós temos), leu um texto da Lya Luft no qual o Anjo da Morte chega para buscar um cara e ele tem que provar pro Anjo por que merece viver. E, como exercício de argumentação, tivemos que elaborar três respostas que daríamos à Morte se ela pedisse razões para manter a gente vivos (por isso que eu adoro tanto essa professora: a gente tem que argumentar com a Morte na aula dela! Olha que esdrúxulo!). Aí comecei a pensar: se eu estivesse cara a cara com o Anjo da Morte, o que eu diria pra ele?
* Primeiramente, diria que, se a vida só me é dada uma vez, tenho que aproveitá-la ao máximo. Não me importa se há algo após aqui ou não. A questão é que, mesmo que eu vá pra outro lugar, aqui na Terra eu só tô uma vez. Como eu ainda sou nova, ainda não tive oportunidades para fazer tudo o que quero ou tudo o que eu tenho direito. Seria injusto me levar agora.
* Em segundo, eu gosto de viver. Por que não fazer uma coisa meio “Jogos Mortais” e levar quem não gosta de estar aqui?
Eu não tinha conseguido pensar em um terceiro argumento na hora da aula. Mas depois pensei em um: ainda não conheci o Felipe Neto :P
O terceiro caso foi ontem no ônibus. Eu sou meio paranóica no ônibus, então acho que posso levar um tiro e morrer a qualquer hora. Escrevi o seguinte texto no verso no meu “A Hora da Estrela” (não tinha outro lugar para escrever...):
“Não sei se é ele. Nunca o vi; como reconhecer alguém (ou algo) que nem vi? Já me enganei antes. Estarei enganada agora? Espero que sim. Preconceitos e sustos devido a um excesso de zelo me enganaram.
Ele vem. Sinto um medo físico mesmo: um calor queima no meio dos meus pulmões. Mas ele passa. Inofensivo. Me enganei de novo.
Ainda bem.”
O quarto foi ainda no ônibus. Se você não leu “A Hora da Estrela” e pretende ler, pare por aqui que eu vou mandar um spoil gigantesco. Ok. Pra quem não sabe, esse livro trata da história da Macabéa, uma mulher que... nem sei explicar. Ela é a realidade de tanta gente que me espanta. Acho que todos deveriam ler esse livro, porque a Clarice Lispector transcreve com maestria o que é a vida das pessoas mais humildes da sociedade. Então, quando a Macabéa morreu, eu fiquei aliviada e chocada. Aliviada porque parece ser a única solução não dolorosa. Chocada porque... também não sei explicar. Realmente não faço ideia. Só sei que, quando li “Macabéa morreu”, quase chorei por aquela personagem pela qual nutri tanta simpatia. Mas a morte é melhor em alguns casos. A vida, segundo o narrador deste livro, é um soco no estômago. A morte é um encontro consigo e é só um instante. Reclamamos tanto da vida e repudiamos tanto a morte... Deve ser o medo do desconhecido. O negócio é aproveitar enquanto podemos, para não ficar implorando pateticamente para o Anjo da Morte depois. Ninguém nunca tá pronto pra essa visita (mais indesejada que menstruação). Mas talvez, quando ela chegar, pense que talvez realmente seja a hora e não a repudie tanto. Abrace-a. Não a procure, mas pense que, se você está reclamando da vida, se está cansado e só quer ficar deitado dormindo na cama pra sempre, a morte lhe será a melhor saída. Agora, se você gosta de viver... lute contra a morte até quando você não puder mais vencê-la. E viva, não apenas sobreviva. Viva, viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta.
Por mim, você poderia ter escrito apenas o que escreveu no seu "A Hora da Estrela". Foi simplesmente perfeito. ;)
ResponderExcluirOlá, Juliana... obrigado pelas visitas ao pqp!. Seja sempre bem-vinda e fique à vontade. Abraço!
ResponderExcluirAhn, Marcela... Eu não tenho muito costume de escrever como você. Adoro, mas não escrevo. Então, quando escrevi esse texto no verso do meu "A Hora da Estrela", não fazia ideia se tava bom ou não... Mas, se você gostou, deve estar bom, né? Muito obrigada pelo elogio. Ahn, e você que gosta de literatura brasileira, dá uma passada depois no meu outro blog, o www.minhasepifaniasalheias.blogspot.com
ResponderExcluirPara o Luís Fernando: eu que agradeço a visita! Amo demais seu blog, me divirto à beça! Seja também sempre bem-vindo por aqui!
Beijos gente!