Há umas duas semanas, mais ou menos, estou com um desejo fixo na mente: quero um cachorrinho. Eu já tenho uma Pinscher, mas ela fica no sítio da minha avó - ela é muito agitada e não se adapta a apartamentos. Eu quero um pug ou um buldogue francês pra ficar aqui em casa comigo, pra vir lamber meus dedos quando eu chegar exausta da faculdade, pra brincar comigo nos meus momentos de tédio, pra – principalmente – me animar nos momentos em que eu estiver pra baixo.
E o engraçado foi que, bem, que eu me lembre, eu nunca li contos ou crônicas sobre cachorros. E hoje, em menos de duas horas, ao pegar dois livros distintos pra ler (“Laços de Família”, da Clarice, e “Montanha Russa”, da Martha Medeiros), li um conto e uma crônica sobre o suposto melhor amigo do homem: “O crime do professor de matemática” e “Homens e cães”, respectivamente. Leiam um trechinho de cada um:
Clarice: “Ah, sim, eras irredutível: eu não queria que comesses carne para que não ficasse feroz, mas pulaste um dia sobre a mesa e, entre os gritos felizes das crianças, agarraste a carne e, com uma ferocidade que não vem do que se come, me olhaste mudo e irredutível com a carne na boca. Porque, embora meu, nunca me cedeste nem um pouco de teu passado e de tua natureza. E, inquieto, eu começava a compreender que não exigias de mim que eu cedesse nada da minha para te amar, e isso começava a me importunar.”
Martha: “O que é um amor puro? É o amor que não espera nada em troca, é o amor que não se projeta adiante, que nada constrói, ou seja, não é o amor entre o homem e a mulher que casam e formam família. Estes até são impulsionados pelo amor, mas o amor é apenas o ponto de partida para uma ambição maior: a articulação de um futuro. Já amar um cachorro é como amar um amante: o futuro inexiste, só o presente é que conta, não há intenções encobertas, apenas o dar e o receber gratuito, o prazer renovado a cada dia, sem interferências de qualquer espécie. [...] O amor aos cães costuma ser acompanhado por uma certa perda de confiança no homem”.
O cachorro te ama sem pedir nada em troca, nem mesmo comida, carinho ou abrigo. O cachorro não pede para você mudar por ele – e você também não se sente na obrigação de mudar por ele. Ele não vai te trair, nunca (eu já vi namorados traindo, amigas traindo, até mesmo pais traindo de uma forma ou de outra. Mas nunca vi um cachorro traindo o dono). É o amor realmente mais puro: é irracional – provavelmente de ambos os lados. Ele não fala com você, e você não sabe se ele te entende, mas vocês conversam enquanto ele deita de costas implorando um carinho na barriga, enquanto você dá uma bronca nele, enquanto ele olha pra você com aqueles olhinhos pidões. Ok, ele não substitui um namorado (pelo menos, biologicamente, não. A não ser que você tenha algum transtorno sexual) ou uma amiga (porque, por mais que o cachorro te dê amor, acho que ele não vai poder te aconselhar). Mas o contrário também é verdadeiro: nada pode substituir o amor de um cachorro.
(Ainda sonho com o dia que meu blog será famoso. Aí eu vou pedir um cachorro e um dos meus milhares de fãs irá me dar um filhotinho enrugado mega fofo, assim como aconteceu com o PC Siqueira. E, não, Carol. Muito obrigada, mas não quero a Milla. Pra quem não sabe, a Milla é a poodle anti-social da Carol que sempre tenta me morder...)
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ResponderExcluir"Quanto mais conheço as pessoas, mais eu gosto do meu cachorro".
ResponderExcluirPosso dizer que cheguei a idade adulta mais com a ajuda dos meus cães do que das pessoas. Eles mostram mais interesse por mim do que qualquer outra pessoa a minha volta e mesmo sem entender uma palavra do que eu digo, ouvem com atenção tudo o que eu falo.
Queria tanto que as pessoas pudessem amar como cachorros... sem compromisso... sem nenhum interesse além da felicidade de ambos... o mundo sem dúvida seria melhor! ^^