domingo, 25 de julho de 2010

Pelo direito de ler "literatura comercial"!

Esse post é pro Zé Adriano, meu professor de literatura do Ensino Médio, que é formado pela UFRJ, tem doutorado e livros publicados. Outro dia eu tava pensando no que ele falava pra minha turma: " 'Crepúsculo' é um lixo! 'Harry Potter' é muito ruim! Os livros do Dan Brown são horríveis!" E ele brigava conosco por lermos essa literatura "comercial".

Mas o que eu tava pensando é: num país como o Brasil, onde ler nunca foi um hábito muito difundido, a literatura comercial abre as portas para a leitura. Acho que o meu caso não foi dos mais comuns, mas, pra comprovar a minha teoria, vou contar mesmo assim: o primeiro livro "grosso" que devorei foi "Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban", quando eu tinha 9 anos. Depois da saga completa do bruxinho, minha mãe me apresentou Agatha Christie e Sidney Sheldon. Um pouco mais tarde, comecei a pegar livros emprestados com a minha tia e ia na biblioteca da escola toda hora. mergulhada nos livros, comecei a procurar os clássicos. Aos 13 anos, já era fã de Álvares de Azevedo e meu livro preferido era "O morro dos ventos uivantes". Se hoje faço faculdade de Letras é graças a dois fatores: pelo lado da língua portuguesa, à minha professora da oitava série, Ju; pelo lado da literatura, àquele singelo exemplar de "Harry Potter" que ganhei de presente de batismo (fui criada no protestantismo, onde bebês não são batizados). Enfim. O que quero mostrar é que uma literatura "comercial" me levou aos clássicos e além: decidiu meu futuro!

Caro Zé, falar com seus colegas de profissão que "Crepúsculo" é um lixo... beleza. Mas falar isso pra uma turma de adolescentes que têm aquilo como base de literatura... acho que acaba "traumatizando" e criando um preconceito, uma repulsa à literatura. É óbvio que o aluno não pode ficar preso ao "Crepúsculo", mas, chamando de lixo, você quebra a base literária que ele está construindo. Boa parte dos leitores desses livros são "crianças literárias", ou seja, estão apenas começando a se aventurar no mundo da leitura. Dar "A hora da estrela", de Clarice Lispector, pra uma criança de 7a série ler é maldade (não foi o Zé que fez essa atrocidade, isso aconteceu no colégio da minha prima). É o mesmo que pedir pra uma criança de 2 anos correr a São Silvestre! Como um ser que está aprendendo a andar e cai toda hora vai disputar uma maratona?

Veja bem, em nenhum momento defendi "Crepúsculo". Li os livros e os achei mal-escritos. Só estou aqui defendendo dos alunos se firmarem na literatura com esse tipo de livro comercial (porque, hoje em dia, é raro alguém começar a gostar de ler pelos clássicos da escola). Ah, e também não estou dizendo que os clássicos não devam ser cobrados. Mas pensa numa coisa, Zé: quantas pessoas procurarão os clássicos ou até mesmo farão faculdade de Letras por causa do "Crepúsculo"?

6 comentários:

  1. Meu primeiro livro, aos 5 anos, foi um velho/antigo exemplar "O Pequeno Príncipe", dado pela minha mãe, que por sua vez, tinha ganhado da minha avó... Depois, a coisa andou... Tudo tem um começo.

    O seu ex-professor bem pode ser doutor e tal, mas, com o perdão da palavra, parece ser um tanto quanto ignorante... Ele misturou demais as coisas... Eu perguntaria a ele que literatura não é ou algum dia foi comercial? Victor Hugo, Machado de Assis, Goethe, enfim, qualquer escritor dito "tradicional", ao acaso doavam os livros, viviam de vento? Não, eles vendiam, então, também era "Literatura Comercial." Se há dinheiro no negócio, há comércio, há troca, escambo, permuta, o que seja...

    Agora, criticar e questionar a qualidade literária, aí já é outra coisa. O Zé Adriano confundiu as coisas... Ele crê que, se passaram alguns séculos, a literatura deixou de envolver $$$. Besteira. Eu também não gosto, nenhum pouco - diga-se de passagem -, de Harry Poter, Crespúsculo, Paulo Coelho e por aí vai, mas, como você bem disse, tudo tem um começo, um tempo, uma idade, um estado de espírito, uma personalidade sedimentada...

    Ótimo post.

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  2. Obrigada!

    Só pra defender meu professor: o Zé não é ignorante, só é cabeça dura :P Será que ele muda de ideia com o meu post?

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  3. Minha cara,

    Perdõe-me. Não quis, de forma alguma, ser ou parecer indelicado.

    Apenas quis dizer que, no final das contas, ele está equivocao (e com boa intenção, presumo).

    Se ele tiver honestidade, e der o braço a torcer, talvez mude de idéia.

    P.S.- Para ajudar sua "artilharia", diga a ele para pesquisar o que os jornais, críticos e literatos, à época, diziam dos escritos de Dumas (o pai)... Chamavam de "literatura barata."

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  4. Tudo bem, tá perdoado :D

    É, e o pior que não foi só o Dumas... A crítica também falava muito mal da Jane Austen! Mas valeu pela dica!!

    Bjs

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Uma vez vi uma comunidade do orkut falando exatamente sobre isso. Eles chamavam de bullying literário esse preconceito exercido por algumas pessoas que apenas as obras clássicas devem ser lidas e repudiando tudo quanto é tipo de "literatura comercial".

    Será que já não há preconceito suficiente no mundo?? As pessoas que leem são consideradas educadas e instruídas, deviam abominar esse tipo de comportamento, não incentivá-lo!

    Ótimo post!

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