Eu nunca gostei muito de ir à igreja, principalmente porque vejo uma discrepância enorme entre o que eu ouço e o que eu vejo. Sinceramente, sempre achei muito mais importante tratar bem os motoristas de ônibus, ser gentil e procurar ajudar do que ir à igreja todo domingo. Conheço vááárias pessoas (e muitos desses exemplos estão na minha família) que todo domingo (e terça, e quarta e quinta...) estão na igreja, mas passam o tempo todo falando mal dos outros, fazendo fofocas maldosas e nunca movem um dedo pra ajudar quem quer que seja. E elas não ligam se você é professor comunitário, dono de ONG ou o Profeta Gentileza em pessoa: esquece, se você não for à igreja, você não tem valor.
É ÓBVIO que falo de uma parcela da igreja que é assim. Na minha igreja tem várias pessoas super simpáticas, educadas e que querem sim ajudar. Mas como eu conheço poucas pessoas que são assim – a maioria, como eu, entra, senta, escuta e vai embora –, acabei pegando “trauminha” de religiosos. Tenho HORROR ao RR Soares, ao Silas Malafaia, ao Edir Macedo e àqueles bispos da antiga igreja do Kaká. Pode até ser que não, mas só consigo vê-los como empresários. Sabe como é, pequenas igrejas, grandes negócios... Enfim. De uns tempos pra cá, com toda essa coisa das minhas epifanias, comecei a perceber que não concordava com muitas coisas que eu ouvia na igreja. Pode estar na bíblia, mas eu não acho que ser gay seja algo errado. Como já disse em algum post lá atrás, acho que as pessoas não escolhem ser gays – fala sério, por que você escolheria ser perseguido por toda a sociedade? Se existe “ex-gay” eu não sei, acho que héteros podem ter fases de experimentações homossexuais, mas de uma coisa eu tenho certeza: ser gay NÃO É uma doença. Aaaanyway, poderia defender o direito dos gays aqui o dia inteiro, mas o meu post não é sobre isso.
Quando eu comecei a perceber que eu não concordava com as pessoas nem com alguns ensinamentos, fui me afastando cada vez mais (isso tem mais ou menos um ano e meio). Com a correria da faculdade, o único dia que eu tinha para estudar era domingo e aí mesmo que me afastei. Quando eu ia pra igreja, só conseguia ouvir coisas com as quais não concordava. Até que no finzinho do ano passado eu fui na EBD (Escola Bíblica Dominical, onde há um estudo dirigido da bíblia, separado em classes de acordo com a idade das pessoas) e comecei a concordar com o que o rapaz, meio novo na igreja, estava falando. Ele estava citando pensadores importantes, e não falava de um jeito hipócrita como todos os outros que eu ouvia. Eu entendia, e, mais ainda, compartilhava o pensamento com ele. A partir daí, vi que a igreja não é um lugar para pessoas inocentes que caem nas mãos de pastores com boa lábia. Algumas até podem ser, mas vi que, mesmo não concordando com tudo, a igreja me traz alguns esclarecimentos intelectuais e espirituais. Se eu vou pra igreja hoje, vou pra crescer, não por medo de ir pro inferno ou pra minha vida melhorar – acho deprimente ganhar as pessoas na base do medo ou do interesse.
Não quero ofender ninguém com esse texto – religião é sempre um assunto mega delicado – e eu respeito as opiniões alheias. Eu respeito a diversidade, por isso que acho meio errado também essas missões evangelizadoras. Cada um é livre pra ter a fé que quiser e, bem, Alá, o Deus cristão e o Deus judeu são o mesmo Deus. No fundo, por mais diferentes que as religiões sejam, acho que a maioria delas tem um mesmo propósito e doutrinas semelhantes. E se você não tiver religião, tranquilo também, sinal que, pelo menos por enquanto, não está te fazendo falta.
O Igor, meu professor de violão (cara, é muito estranho chamar ele de professor...), me dá mais “ensinamentos para a vida”, mesmo sendo só 4 ou 5 anos mais velho que eu, do que ensinamentos sobre cifras de música. Não que ele não dê aula bem, pelo contrário, mas sinto às vezes que os conselhos que ele me dá valem mais que as aulas de violão. Depois de ler isso talvez ele comece a cobrar pelos conselhos... Enfim. Ele me disse, talvez não necessariamente com essas palavras, que temos que ser sinceros com nós mesmos. Temos que ser nós mesmos. Então, puts, se tu não se sente à vontade numa igreja, não vá só por medo de sofrer a ira divina (pergunta básica que não consigo entender: a ira é um dos sete pecados capitais, certo? E se uma das expressões que mais ouvimos é “a ira divina”, como Deus se ira se a ira é pecado? Deus peca? Isso não é heresia, é apenas uma linha de raciocínio lógica). Se você acredita em tudo o que está na bíblia, beleza, mas que seja porque você acredita mesmo, não porque o pastor disse que você tem que acreditar senão você vai pro inferno. Deus pode ser fiel a você, e eu acredito mesmo que ele seja – experiência pessoal –, mas seja você também fiel a si mesmo.
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