terça-feira, 12 de outubro de 2010

A solidariedade do brasileiro

Separem ficção da realidade... if you can...

Há uns dois anos atrás, vi no “Notícias MTV” uma crônica do Xico Sá que falava sobre a solidariedade do brasileiro. Você não acha o brasileiro solidário? Ande com o cadarço do seu tênis desamarrado por alguns minutos (uns 15 já estão de bom tamanho) e verá a quantidade de desconhecidos gritando para você: “Ei, seu cadarço está desamarrado!” “Moça, ó o cadarço!” “Ow, menina! Menina! MENINA! SEU CADARÇO!” O bizarro é que, se você estiver com a bolsa aberta ou com uma mancha enorme na calça, dificilmente as pessoas irão te avisar com tanta urgência assim. E, acredite, EU SEI QUE O MEU CADARÇO ESTÁ DESAMARRADO!! Estava usando o meu All Star que vai até a metade da canela, o cadarço daquilo é enorme! Eu teria que ser MUITO distraída para não reparar nos cordõezinhos de pano batendo insistentemente na minha perna.

Anyway. Eu tinha acabado de sair da casa da Bella, que fica a uns 15 minutos da minha casa, quando senti os cadarços do pé direito do meu tênis afrouxarem. Eu não podia parar para amarrá-los por três motivos:

1 – Estava com uma bolsa/pasta com 10 livros na mão direita (resultado de uma feira de trocas da faculdade; estava com obras tipo “The adventures of Sherlock Holmes”, “O que é literatura popular?”, “Almas mortas”, do Gogol, e “A insustentável leveza do ser”) e na esquerda estava segurando firmemente minha bolsa preta listrada cheia de bottons. Mentira, ela não é cheia de bottons não, tem só 4 – um da Emily the Strange (“Emily isn’t crazy, she’s mad”), um com o símbolo do All Star, um da Família Monstro (!!!) e um do Corvo (!!!!!!!).

2 – Para chegar à casa da Bella, preciso passar por um lugar meio punk; como sou bem medrosa nesse aspecto, não queria parar nem por um segundo, saí andando o mais rápido que consegui.

3 – Eu estava de saia, ou seja, não podia levantar meu pé para apoiar em algum lugar, teria que me abaixar – e como eu me abaixaria para amarrar os cadarços com duas bolsas e praticamente sem mobilidade se alguém me abordasse?

Tendo isso em mente, continuei com os meus cadarços desamarrados. Cerca de três minutos depois que saí da casa da Bella, um homem, ao passar por mim, me diz: “Ó, seu cadarço está desamarrado!” “Obrigada”, digo, sem conseguir ser antipática. Uns cinco minutos depois, vem o segundo: “PSSSSSIU! EEI! MOÇA! MOÇA!! SEU CADARÇO!” Como ele estava num carro, consegui ignorá-lo. E ignorando esse, cometi um erro: apertei meu passo e encontrei com dois homens mal encarados. Um estava com uma bermuda com desenhos abstratos, uma camisa vermelha e um boné; o outro, com (atenção no look) uma blusa branca encardida listrada e uma bermuda xadrez. Só essa combinação já é de assustar qualquer um, mas voltemos à empolgante história. Tentei andar mais rápido, mas, adivinha? Tropecei no maldito cadarço e caí. Pensei: “Oh, great! Agora vou ser assaltada! Esses caras vão levar minha bolsa com os bottons, o bottom do Gossip Girl que eu acabei de ganhar, o meu copo do “Tá chovendo hambúrguer”, que a Bella também acabou de me dar, e, o pior: minha cópia do “Kingdom Hearts” que eu acabei de pegar e mal posso esperar para jogar! Espero que eles só peçam o dinheiro... Se bem que minha bolsa tá tão desorganizada, os R$9,60 que eu tenho estão tão espalhados por esse buraco negro que eu tenho a audácia de chamar de bolsa, que talvez fosse mais prático entregar minha bolsa logo. Ok ok, nada de pânico. Aimeldels, eles estão se aproximando de mim!! Rasteja de costas, como fazem todos os personagens de filmes de terror quando eles estão numa perseguição com o vilão e acabam caindo. Tá, calma, espera pra ver se eles vão falar alguma coisa e já prepara a bolsa para entregar pra eles.”

Os dois caras pararam ao meu lado. “Você tá bem?” disse um, com um olhar realmente preocupado. “Aham”, disse, tentando me levantar. Como não largava a bolsa listrada com os bottons, o brega da combinação listras/xadrez pegou a minha pasta com os livros e me entregou. “Cuidado aí com esse cadarço!”, disse o de boné. “Obrigada” – foi tudo o que eu consegui dizer, ainda sem  amarar os sapatos. Por que não amarrei? Sei lá, acho que tava com tanta vergonha que só queria chegar em casa o mais rápido o possível. Ao entrar no portão da minha casa, antes de fechá-lo, porém, escutei uma frase:

“Ei, moça! Seu cadarço!”

Clarice Medeiros / Juliana Lopes

4 comentários:

  1. Haha muito bom, é o que eu chamo de "solidariedade inconveniente". Afinal isso foi real ou ficção?

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  2. hahahaha
    essa é a graça, fazer com que vocês fiquem se perguntando. Como diz Dumbledore: "É claro que isso aconteceu em sua mente, mas por que quer dizer que não é real?"

    Beijos Beijos, ótimo feriado!

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  3. Duuude, as suas crônicas são o máximo *-* Sério, parabéns. E acho você tem de fazer logo a matéria da Pina, pra ela te amar por isso xD
    Ah, e lendo esse post percebi que escrevi Bella errado no comentário do anterior ¬¬

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  4. OMG, obrigada! Vou ver se faço a matéria dela no próximo período, antes que ela se aposente... Fiquei super lisonjeada agora rsrsrs
    Super me incentivou a fazer mesmo Formação do Escritor junto com o Bacharelado.

    Bjs

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