segunda-feira, 28 de março de 2011

Felicidade Clandestina

Vivemos no país do Carnaval, do samba, do futebol. Coisas aparentemente felizes, certo? Porque o brasileiro é feliz, né? O brasileiro é carismático, alegre, pra cima e tudo o mais. Não, leitores, não. O Brasil é o país dos ônibus lotados, da corrupção comendo solta, das impunidades, do compadrismo e da falta de educação (educação aqui num sentido de escola, de escolaridade). É claro que tem o carnaval, o samba e o futebol, mas o Brasil não se reduz a isso. Então por que mostrar só a face feliz?




Temos uma obrigação implícita de sermos felizes, porque “o brasileiro é um povo feliz”. Como eu DETESTO generalizações. “Baianos são preguiçosos”, “Cariocas são vagabundos”, “Paulistas são workaholics”, “gaúchos são preconceituosos” e “o brasileiro é feliz”. Há uma NECESSIDADE de ser feliz. Não estou dizendo que temos de buscar a infelicidade e andar tristes e taciturnos, mas essa ditadura da felicidade é algo insuportável! Como já diz uma música do Ira!, eu não consigo ser alegre o tempo inteiro.

Temos muitos demônios interiores a serem exorcizados (por favor, isso é uma metáfora! Não levem para o lado religioso!). Temos dúvidas, questionamentos, falhas, erramos, fazemos besteira, nos arrependemos... Não somos perfeitos e, sinceramente, eu nem desejo ser. Num conto da Clarice Lispector (que não lembro agora qual é), vemos que tentar manter a vida arrumadinha é inútil. Nós não somos arrumadinhos! No conto, uma mulher passa pelo Jardim Botânico e se espanta com a putrefação e a vida do local – e com a putrefação que faz com que a vida exista (é só com a morte das coisas que novas coisas podem surgir). Poisé, leitores. A vida não é cheirosinha e feliz. A vida pode ser (e é) muito boa sim, mas não é 24h por dia, 365 dias por ano. Então vamos parar de mostrar apenas esse lado da vida, ok? Vamos parar com essa coisa de placa de “Sorria, você está na Barra da Tijuca”. O brasileiro é chutado eternamente, tem que pegar 500 meios de transportes para chegar ao trabalho, recebe um salário indigno, não temos acesso a boas escolas ou a bons hospitais gratuitamente... E TEMOS QUE SER FELIZES? WHAT THE FUCK? Nãããããão!

Além disso, há um padrão para sermos felizes. Seremos felizes se tivermos um carro X., um homem Y., uma casa Z. e por aí vai. Não podemos fugir do padrão. Se você quiser andar de ônibus, não quiser um homem e sim outra mulher e se não quiser uma cobertura na Zona Sul, então que tipo de pessoa é você? A nossa cultura nos diz tudo isso porque, bem, a cultura é o controle da sociedade.

A nossa cultura estabelece um discurso moralista de controlar o outro. Controlar seus desejos, o que ele veste, o que ele tem, com quem ele dorme, o que ele pensa sobre determinados aspectos sobre a vida. E controlar aqui significa “vigiar e punir”, numa perfeita sociedade do “Big Brother”, não do reality show da Globo, mas sim da, ahn... Instituição do livro “1984”, do George Orwell.

E mais: hábitos culturais não  necessariamente devem ser entendidos/aceitos por todos. Como a Freak Girl disse em seu primeiro post: "É muito difícil morar no Brasil e não gostar dessas coisas (futebol, carnaval e álcool), mas eu acho que do mesmo jeito que os que gostam têm o direito de gostar, eu tenho o direito de não gostar." Não gosto de futebol, não gosto de carnaval, não gosto de álcool, não gosto de funk, axé ou pagode e acho que o brasileiro é muito mais que essa noção estereotipada de felicidade. 

Um comentário:

  1. Concondo muito!
    A felicidade não vem desse nosso esteriótipo de carnaval, futebol, funk...
    A Felicidade é muito maior e a gente é feliz por razoes diferentes e não simplismente por sermos brasileiros...

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